segunda-feira, 2 de junho de 2008

Jovem/Idoso

Na próxima quarta-feira, 4 de Junho, será debatido o último ds dualismos desta primeira série. O Prof. António Fonseca, da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica (Porto) abordará o dualismo 'jovem/idoso'. Apresenta-se aqui o texto para debate.

The golden years have come at last ?

Não se chega a velho sem um dia se ser jovem e, todavia, talvez nunca como hoje, os valores do que é jovem se opõem tanto aos valores do que é velho. Valores, sim, porque é disso que falamos quando dizemos que uma coisa (também uma pessoa?) não presta porque é velha ou presta porque é nova. E como tudo muda se dissermos que essa coisa é antiga, elevada desse modo ao estatuto de rara, preciosa (o meu avô dizia que os antigos eram isto ou faziam aquilo, mas para ele os antigos eram os mortos…).

Uma leitura do princípio da igualdade expresso no art.º 13º da Constituição da República Portuguesa dá o mote: “1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.” Em lugar algum do artigo se refere a idade como factor que pode levar à discriminação (negativa ou positiva). Para o legislador, não há qualquer problema, risco ou mérito associado tanto à velhice como à juventude) que mereça ser contemplado na lei fundamental. Provavelmente porque não é necessário, tão evidente lhe parece (ao legislador) que ninguém pode ser “privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever“ por causa da idade que nem vale a pena escrevê-lo.

E contudo a realidade não acompanha a lei (como quase sempre, de resto). Há não muito tempo estava em uso falar da juventude actual como “geração rasca” e eu próprio costumo usar a palavra idadismo para falar dos estereótipos que criamos acerca das pessoas mais velhas e que leva à utilização de rótulos como “uma pessoa de idade” (como se não tivéssemos sempre uma determinada idade!) para justificar porque é que esta actividade não é (ou é só…) para velhos.
Assim sendo, será que os golden years ainda são o que eram?

António M. Fonseca

terça-feira, 27 de maio de 2008

belo-bruto

Estará em debate amanhã, quarta-feira, 28 de Maio, um dos dualismos que tem perpassado toda a história da cultura: o par belo-bruto. Será apresentado por Carlos Morais, docente da Faculdade de Filosofia, propondo-se aprofundar a questão dos critérios do gosto que fundam os juízos de apreciação estética.A sessão terá lugar na sala 3.1, às 18,00 horas.
Os seguintes tópicos pretendem lançar desde já o debate.
«A ideia de que possa existir uma verdade “absoluta” (que apenas significa: não relativa, recordemo-lo pois tão pejorativo se tornou o termo) faz sorrir o primeiro liceal recém-chegado, se é que não o aterroriza. Em qualquer caso, ela contradiz a sua única convicção absoluta: a de que não existe verdade absoluta. Este resultado é o fruto de uma longa história, de uma história que foi, de facto, a das profundas subversões. Dado que a filosofia moderna não começa com Nietzsche, nem com Marx, mas antes com Descartes que acreditava firmemente, difícil de o contestar, no carácter absoluto das verdades eternas. A distância que nos separa hoje de uma tal crença parece abissal.

Na estética acontece algo completamente diferente: fundando o belo numa faculdade bastante subjectiva (…), a sua história, pelo menos até aos finais do séc. XIX, iria do relativismo para a busca dos critérios do juízo de gosto. Num paradoxo que merece reflexão, o gesto relativista mostra-se bastante menos à vontade no campo da estética do que no da filosofia pura, até mesmo no da ética, e isto por uma razão bem simples: desmorona-se rapidamente sob o peso da sua própria banalidade.»
Luc Ferry, Le sens du beau. Aux origines de la culture contemporaine, Éditions Cercle d’Art, 1998, p. 26.

«O ciclo das desconstruções termina: eis chegado o tempo das fundações»
Laurent Danchin, Pour une art post-contemporain, Ed. Lelivredart, Paris, 2008

«Gosto é a faculdade de julgamento de um objecto ou de um modo de representação mediante um comprazimento ou descomprazimento (independente de todo o interesse). O objecto de um tal comprazimento chama-se belo.»
Immanuel Kant, Crítica da Faculdade do Juízo, introd. de António Marques, trad. e notas de António Marques e de Valério Rohden, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1992, p. 98 (§ 5, 16).

«A estética analítica não tem que se limitar de modo algum à metacrítica. As obras referem e são então símbolos. As técnicas analíticas originalmente inventadas para explicar a linguagem podem ser ampliadas e adaptadas para se aplicarem aos outros géneros de símbolos. (…) Compreender uma obra como simbólica, é incluí-la numa linguagem ou num sistema simbólico. A sintaxe do sistema determina a identidade dos signos, a sua semântica fixa a sua referência. Uma das tarefas da estética analítica consiste em descrever os sistemas apropriados à arte. Uma outra consiste em determinar em que é que se assemelham aos outros sistemas e em que é que diferem.»
Nelson Goodman & Catherine Z. Elgin, Esthétique et connaissance, trad. Par Roger Pouivet, Éditios de L’Éclat, Cahors, 1990, p. 85.

«Sugeri frequentemente que a experiência estética mais autêntica era uma experiência selvagem que para se entregar ao objecto, para se deixar surpreender e fascinar por ele, como por algo raro, para fruir dele, devia libertar-se dos hábitos, dos preconceitos, e das normas que a cultura lhe impõe. Então, desculturar-se? Sim, mas talvez não seja assim tão fácil: não é espontâneo/inocente quem quer; esta espontaneidade, esta frescura do olhar ou da audição, é necessário alcançá-las, e possivelmente à força de cultura: é necessário muita cultura para se libertar da cultura (…)».
Mikel Dufrenne, L’inventaire des a priori. Recherche de l’originaire, Christian Bourgois Editeur, Paris, 1981, pp. 296-297.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

DUALISMO COGNIÇÃO/EMOÇÃO

Na próxima quarta-feira, 21 de Maio, às 18.00h a Doutora Ângela Sà Azevedo apresenta o dualismo cognição/emoção. Segie-se o texto para debate.


INTRODUZINDO O DUALISMO…

Reflectir acerca do “dualismo cognição/emoção” é um desafio…
Um desafio que está presente no dia-a-dia de cada Psicólogo…na sua formação teórica, nas competências de atendimento, na compreensão da pessoa que procura a sua ajuda, nas decisões que qualquer intervenção de ajuda implica…
Neste “Dualismo: Cognição/Emoção” propomos uma reflexão em conjunto, sobre as seguintes questões:
Cognição/emoção serão construtos opostos?
Fará sentido hierarquizar estes conceitos?
A competência emocional resulta de outras competências, nomeadamente as sócio-cognitivas (Veríssimo, Monteiro, Vaughn & Santos, 2003)?
Será que poderemos encarar o dualismo cognição/emoção como um verdadeiro dualismo?
Ou será que, numa perspectiva eclética, deveremos considerá-los como complementares?


DUALISMO…OU NÃO…EIS A QUESTÃO…

A evolução da ciência Psicológica caracteriza-se pelo desenvolvimento de perspectivas dicotómicas. Nos seus primórdios os investigadores centraram os seus estudos na consciência e nos estados mentais – o Experimentalismo.
Posteriormente, negando ou complementando estas abordagens surgem as teorias Behavioristas que irão enfatizar a primazia de um ambiente estimulador, renegando para um papel totalmente insignificante a vida mental (Azevedo, 2005). Com o mesmo objectivo de contestação, emergem as teorias Psicanalíticas que reavivam os elementos mentais mas agora apenas aqueles que não se encontram acessíveis ao sujeito, isto é, os pensamentos inconscientes.

Mais recentemente, nesta evolução da Psicologia encontramos teorias que, mais do que mostrar a primazia de um conceito em relação ao outro, optaram por apresentar uma abordagem complementar dos mesmos. Assim, as teorias Transaccionais (Altman & Rogoff, 1987) postulam a interacção dinâmica entre variáveis individuais e contextuais. Será essa interdependência a única capaz de explicar a complexidade do comportamento humano para fazer face às constantes mudanças. O Construtivismo é uma perspectiva transaccional que confere importância ao sujeito como construtor da sua realidade, ao atribuir significados aos objectos. Desta forma, os processos cognitivos e afectivos coexistem e permitem compreender a complexidade biopsicossocial da pessoa humana (Rosário & Almeida, 2005).

Podemos, considerando os dados referidos anteriormente, referir que apesar do estudo mais aprofundado da relação entre cognição e emoção remontar ao início da Psicologia como ciência, no entanto, é com a década de 80 que estudos inseridos em diferentes perspectivas da Psicologia, nomeadamente as teorias Psicanalíticas, as Neurociências e as Cognitivo-construtivistas, apresentam estes conceitos como complementares. Será nesta década que, definitivamente, a emoção deixa de ser considerada como antítese da cognição (Pinto, 2005).
Consideramos que cognição/emoção, mais do que conceitos opostos, representam posições contínuas do processo de conhecimento, aprendizagem e desenvolvimento, isto é, fazem parte de um mesmo sistema.

Aceitando esta perspectiva de complementaridade, encontramos na revisão da literatura estudos representantes das abordagens Cognitivistas/construtivistas que defendem que a emoção contribuirá para diferenciar o tratamento cognitivo da informação. Salientamos, por exemplo, Lazarus (1991) segundo o qual a emoção apresentaria um papel crucial no tratamento da informação, sendo que a avaliação cognitiva precederia uma reacção afectiva. No entanto, sem a pretensão de saber se a cognição se situa antes ou depois da emoção, autores como Moreno (1998) afirmam que existe uma verdadeira interacção dinâmica entre cognição e emoção, pelo que coabitariam e colaborariam da mesma forma para o pensamento e para o raciocínio de cada sujeito psicológico.

Recentemente autores como Veríssimo, Monteiro, Vaughn e Santos (2003), num estudo realizado com 50 díades mãe/criança, com o objectivo de estudar a influência do tipo de vinculação no desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças, concluíram que crianças inseguras apresentavam mais dificuldades em perceberem o ponto de vista cognitivo do outro (descentração cognitiva global).
Por sua vez, estudos na área das Neurociências apresentam um funcionamento psicológico integrado, em que conceitos como fisiológico/psicológico, cognitivo/emocional aparecem estabelecendo relações dinâmicas (Darwich, 2005). Esta interdependência entre emoção e cognição foi defendida primeiramente por Damásio (1995) na sequência das suas investigações que concluíram que sujeitos que sofreram de lesões cerebrais apresentam perturbações nas reacções emocionais e, igualmente, na tomada de decisões. Este autor vai mais longe considerando que as emoções são mesmo guias que determinam a direcção das nossas decisões.

COGNIÇÃO/EMOÇÃO E OUTROS CONCEITOS

Terminamos… propondo a aplicação deste dualismo a conceitos como…
Lidar com situações desafiantes (Coping)…
Inteligência emocional…
Auto-conceito e Auto-estima…
Psicologia do Optimismo…
Aprendizagem auto-regulada…
Motivação intrínseca e acção motivada autónoma…
Modelo de Sedução Educacional…
Decisões vocacionais (Interesses/aptidões?)…

Gostaria de participar nesta reflexão?
Quer propor a aplicação deste dualismo a outros conceitos?
Então aceite este desafio e participe…

BIBLIOGRAFIA…

Altman, I., & Rogoff, B. (1987). Word Views in Psychology: Trait, International, Organismic and Transactional Perspective. In I. Altman e B. Rogoff (eds), Handbook of Envirommental Psychology, vol. 1, New York, J. Wiley and Sons.
Azevedo, A. S. (2005). Motivação e Sucesso na transição do ensino secundário para o ensino superior. Tese de Doutoramento em Psicologia. Porto: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Damásio, A. (1995). O erro de Descartes: emoção, cérebro e o cérebro humano. 12ª Edição. Lisboa: Publicações Europa-América
Darwich, R. A. (2005). Razão e emoção: uma leitura analítico-comportamental de avanços recentes nas neurociências. Estudos de Psicologia, 10 (2): 215-222
Pinto, F. E. M. (2005). A afectividade na organização do raciocínio humano: uma breve discussão. Psicologia: Teoria e Prática, 7 (1): 35-50
Moreno, M. (1998). Sobre el pensamiento y otros sentimentos. Cuadernos de Pedagogia, 271: 12-20
Veríssimo, M., Monteiro, L., Vaughn, B. E., & Santos, A. J. (2003). Qualidade da vinculação e desenvolvimento sócio-cognitivo. Análise psicológica, 4 (XXI): 419-430.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Tempo-Eternidade

Na próxima quarta-feira, 14 de Maio, às 18h, tem lugar mais um encontro sobre dualismos, desta vez 'tempo e eternidade'. Seguem-se alguns pontos para a reflexão


O tempo é a imagem móvel da eternidade que não passa. Esta imagem é eterna, mas move-se segundo número.
(Platão, Timeu, 38 a)


O tempo é o número do movimento, segundo o antes e o depois… O tempo não é movimento, mas movimento enquanto admite enumeração. O tempo é uma espécie de número.
(Aristóteles, Physica, IV, 11, 220-25)


O tempo não é outra coisa senão distensão … da própria alma.

(Agostinho, Confissões, XI, 26)

Em ti, ó minha alma, meço os tempos … Meço a impressão que as coisas gravam em ti à sua passagem, impressão que permanece, ainda depois delas terem passado. Meço a impressão enquanto é presente e não àquelas coisas que se sucederam para ela ser produzida. É essa impressão que eu meço, quando meço os tempos.
(Agostinho, Confissões, XI, 27)

O tempo é um vestígio de eternidade.
(Agostinho, De Genesi, 13, 38)

A eternidade é a possessão, totalmente simultânea e perfeita, da vida interminável.
(Boécio, De Consolatione Philosophiae, V, prop. 6)

O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, de si e de sua própria natureza, flui uniformemente sem relação a nada externo, e é chamado duração; o tempo relativo, aparente e vulgar é qualquer medida sensível e externa (exacta ou não uniforme) da duração, por meio do movimento, e usa-se vulgarmente em lugar do tempo verdadeiro, tal como, a hora, o dia, o mês, o ano.
(I. Newton, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, 1687)


De acordo com a mecânica clássica e com a teoria da relatividade restrita, o espaço-tempo tem uma existência independente da matéria ou do campo … Na teoria da relatividade geral, por outro lado, … o espaço-tempo não tem existência por si própria, mas apenas como uma qualidade estrutural do campo.
(A. Einstein, Ideas and Opinions, 375)


O tempo é o que acontece, quando nada mais acontece … O que realmente interessa não é como definimos o tempo, mas como o medimos … utilizando alguma coisa periódica.
(R. Feynman, Lectures on Physics, 1963, vol.1, 5-1)

Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: tempo para nascer e tempo para morrer, … tempo para chorar e tempo para rir, … tempo para procurar e tempo para perder, … tempo para amar e tempo para odiar, tempo para a guerra e tempo para a paz.
(Ecle. 3, 1-8 )


O que é o tempo? Qual a sua natureza, princípio e fim? Que ligações podemos estabelecer entre tempo físico e tempo existencial? E entre tempo e eternidade?

terça-feira, 6 de maio de 2008

bem-mal

Na próxima quarta-feira, às 18.00h, terá lugar na Faculdade de Filosofia, sala 3.1, o encontro sobre o dualismo bem-mal apresentado pelo Prof. José Henrique Silveira de Brito. Apresentam-se a seguir alguns tópicos para debate:

Conhecer é comparação (Nicolau de Cusa)

Valores «são aquelas formas de ser ou de se comportar que, por configurar o que homem (o ser humano) aspira para a sua plenificação e/ou a do género humano, se tornam objecto do seu desejo mais irrenunciável» (França-Taragó)

Da polissemia do termo “valor” à concepção de bem: estará aqui implicado o relativismo?

Mal natural: tudo o que nos causa sofrimento ou supõe um obstáculo para a realização dos nossos desejos» (MARINA, José António - Ética para náugrafos. 4ª ed. 1º Ed 1995. Barcelona: Editorial Anagrama, 1995., p. 220)

Mal ético: «tudo o que directa ou indirectamente deteriora a estabilidade da órbita da dignidade e nos empurra para a natureza, que é facticidade e violência» (MARINA, p. 231)

Fará sentido distinguir mal natural e mal moral?

Depois da “positividade” com que o mal foi experimentado durante o século XX, será possível falar dele como “privação”?

terça-feira, 29 de abril de 2008

Sagrado-profano

No dia 30 de Abril, quarta-feira, o Doutor Miguel Dias Costa apresentará na Faculdade de Filosofia, às 18h, sala 3.1, o dualismo sagrado-profano.

Tópicos para discussão:

“O tremendum, o elemento repulsivo do numinoso, esquematiza-se pelas ideias racionais de justiça, de vontade moral […], o fascinans, o elemento cativante do numinoso, esquematiza-se pela bondade, pela misericórdia, pelo amor”.
R. Otto


“A primeira definição que pode dar-se do sagrado, é que ele se opõe ao profano”.
“O homem profano é o descendente do homo religiosus e não pode anular a sua própria história”.
M. Eliade

“Nós acabámos de dizer: a violência e o sagrado. Nós poderíamos dizer igualmente: a violência ou o sagrado. O jogo do sagrado e da violência não é senão um e o mesmo”.
R. Girard

quarta-feira, 16 de abril de 2008

dualismo homem-mulher

Este dualismo será apresentado hoje, dia 16 de Abril, pela Doutora Maria de Fátima Lobo, por não ter sido possível a sua apresentação no passado dia 9.